Quarta-feira, 2 de Setembro de 2009

Corsage na Parq (E No Gume)

Corsage, Pelo Gume, Na Parq Magazine (Aqui a Versão Não Editada)

 
CORSAGE: FINITO L’AMORE, COMEÇOU A MÚSICA…

 

Nome em francês, título do álbum em italiano, letras em inglês, colectânea em Espanha, banda portuguesa… Parece que falam do fim do amor, mas em Corsage há um pouco de tudo e, como dizem, “tomorrow is never goodbye”.

 

Corsage, palavra francesa, pode ser um arranjo de flores num vestido de senhora ou em volta do pulso. Este adereço é (cumprindo-se a tradição) usado pelas mães e avós dos noivos numa cerimónia de casamento. O termo também representa o corpete de um vestido. O seu uso transformou-se, consoante as tendências, quer nas fábricas, quer nas passerelles. Com o tempo, também o termo evoluiu, e hoje, ainda que tenha os seus floreados, é bem mais do que flores ou vestuário de senhora. É uma banda de cinco espirituosos elementos e, ocasionalmente, em concertos, vestuário de senhor, em particular do seu vocalista, Henrique Amoroso.

Nascidos para a música em data não determinada, mas uns para os outros em 2004, fruto do encontro entre Pedro Temporão (baixo – Raindogs, Cello e Actvs Tragicvs), Carlos António Santos (teclados e acordeão – Actvs Tragicvs), Nuno Damião (guitarras e sopros),  Henrique Amoroso (voz e percussão) e Rui Coelho (bateria), a banda começou por lançar um EP homónimo, editado pela Camouflage Records com distribuiçao de Música Activa, em que já se afirmava a personalidade do som pop alternativo/ indie com que os seus membros estabelecem afinidades. Poderá apontar-se-lhes a influência de Tindersticks, Leonard Cohen, The Triffids, Morrisey (durante e pós The Smiths), ainda que, disto, digam apenas estarem sóbrios. Amoroso reconhece que “são influências que temos e não podemos negar, isso seria como andar nú pelo Chiado e esperar que as pessoas não olhassem”.

Em 2005 participaram, com uma versão de Scott Walker, na colectânea "Angel of Ashes" de homenagem ao muito referenciado músico britânico, editada pela Transformadores. Seguiu-se em 2007 a integração na colectânea "Novo Rock Português" com o tema “Gate Creepers”, edição da Chiado Records.

Finito L’Amore, já com Nuno Castêdo (Pop dell’Arte) na bateria, lança os seus sons em 2009, numa edição de autor com distribuição da Compact Records. A alteração na formação, segundo Nuno Damião, reflecte-se na música, mas o objectivo de gravar boas canções pop permanece. O músico destaca ainda a aposta em instrumentos como o trompete, o clarinete-baixo, o violino e o acordeão, na busca de uma sonoridade mais tímbrica e acessível. Deste trabalho extrai-se o tema de apresentação “All Their Faces” para a colectânea Pop Nation Vol.2, da editora espanhola Bon Vivant Records. Este tema, dos mais apelativos, poderá ser entendido como uma apresentação do grupo, afirmando o seu espaço musical e demarcando-se dos demais.

A produção ficou a cargo de Helder Nélson (Dead Combo, Mikado Lab), com participação especial de Sanja Chakarun (que contribuiu com voz e letras); de Gonçalo Lopes (Alfa Arroba, iNTeRLúNio, In-Canto), amigo de longa data, no clarinete-baixo; e Carlos Santa Clara, introduzido por Hélder Nelson, no violino.

Lançado «Finito L’Amore», os Corsage conquistaram a crítica e o público. Vistos como autores de uma indie romântica divertida, passeiam o seu som entre a melancolia, o vintage, o vaudeville e um humor cáustico. Em Maio de 2009 este reconhecimento foi além fronteiras, e o júri dos Prémios Internacionais da Música e Criação Independente, atribuiu-lhes o prémio de melhor grupo português de 2009. A cerimónia de entrega decorrerá a 26 de Setembro no Gran Teatro de Cáceres.

Constituído por 13 faixas mais um interlúdio, em vinil virtual (lados A e B, distinguidos por um intervalo que não tem forçosamente de representar uma pausa), suporta a simbologia das duas faces da sua música, uma dominantemente pop, mais enérgica, a outra mais folk/ vaudeville e instrospectiva.

 O vaudeville, quase burlesco, em que Kim WIlde e Oscar Wilde podem ter algo em comum, é aliás uma das suas roupagens mais significativas, reflectida em particular nas actuações ao vivo da banda, que assume uma postura vivamente teatral. Amoroso canta o fim e o princípio dos amores e seus derivados encorpando, como vimos, um corsage e as músicas são muitas vezes tão actuadas quanto cantadas.

Aliás, Finito L’Amore é uma colecção de short stories: Corsage e os outros (All Their Faces),  esperança (Dried Up River Blues), desiquilíbrio quotidiano (Trapezist), Finito L’Amore – “on Sundays there’s never much to do” (Along The Line), o Homem-Animal escravo de si próprio (Man Is My Favourite Animal),  sátira aos Media (Gatekeepers), interlúdio carnavalesco ou L’Experience Continue (Intervalo), exortação contra a passividade “tomorrow is never goodbye” (John, John, John), a amnésia do fim que reduz o amor ao anonimato (Annonymous Ann), a jukebox de sonhos: pela música, L’Amore Infinito (Jukebox Made of Dreams), o esforço de recuperação da inocência (Viva La Gradisca), a ilusão necessária (Tenderville), a incerteza e a necessidade de tentar (West Side of the Town).

O amor, a ilusão (“é preciso fingir para acreditar” – Amoroso), o desejo, o risco, a inocência, atravessam uma ideia central, Viva La Gradisca!, num resumo musical do brilhante Amarcord de Federico Fellini. Transcriçao fonética do dialecto da Emilia-Romagna, de onde Fellini era oriundo, para io mi ricordo (eu lembro-me), o filme é uma afirmação da memória, na recuperaçao do momento de transição da inocência para a maturidade através da educação sexual de Tatti e de uma Itália recentemente unificada e relativamente livre para o regime fascista de Mussolini. La Gradisca é, por sua vez, uma região italiana multilingue de Friuli, Venezia-Giulia, na fronteira com a Eslovénia e a Áustria. A palavra é terceira pessoa do imperativo e presente do conjuntivo do verbo italiano gradire, que quer dizer “desejar”, “querer”, “aprazer” e não é por acaso que esse é também o nome da mulher mais bonita e desejada de Amarcord. Nem é por acaso que Viva La Gradisca! é a canção que afinal reúne a essência destas 13 histórias, na celebração melancólica de uma inocência que passou e não se quer perder, pelo circo da vida em que se assume que, pela música: “Cirque du Soleil/ Stanotte si festegierá / al vecchio teatro”. Como confirma Amoroso, “dizer "Viva La Gradisca!" é reconhecer aqueles que mantiveram o seu tesouro ao longo do saque”, o saque da maturidade e dos constrangimentos sociais, do mesmo modo que dizer “Finito L’Amore”na sua dicotomia com “Amore Infinito” (Nuno Damião) é uma forma de preservar a esperança de “A new life, a new start” (Viva La Gradisca!).

Para Amoroso, "o conteúdo trucida a forma se esta não tiver pernas para correr"; mas a forma da música de Corsage, numa recuperaçao da obra-prima de Nino Roti, responsável pela banda sonora de Amarcord, a sua música, desafiadora e coerente, tem pernas para isto e bem maiores distâncias. Imaginando a música como um mergulho profundo, o vocalista diz que “o que interessa não é ir lá abaixo, mas apreciar a viagem"; e a música é comunicação, “mesmo nos intervalos ou momentos de silêncio, como acontece com um autista”. Pelos próprios, “Corsage é uma espécie de contraceptivo social que queremos ver usado apenas com fins recreativos, como se faz aos doze anos e se enche os contraceptivos com água e depois se atira a alguém de quem se gosta pouco. Corsage é o fim derradeiro que nunca começa". É um Peter Pan que relembra que a infância não tem de perder-se e é sempre possível. Esta nostalgia de um passado presente sobressai também no aspecto gráfico do disco.

Este regresso não é porém regressão, e a banda reconhece que, desde 2004, “Corsage cresceu, mas a verdadeira transformação ainda está por acontecer”. Vendo a música como partilha, crê que “egoista é ficares em casa com medo e acenderes o televisor. A música faz as pessoas virem-se juntas.”

Pretendem por isso continuar a apresentar ao vivo “Finito L’Amore’ e compor novas canções. Com actuações previstas para Setembro e Outubro (Ler Devagar, Cáceres, Maxime), aconselham-nos a “como Daffy Duck, expect the unexpected”.

Corsage está portanto no princípio. Ganhou uma entrada para “o rico, iluminado e vasto meio boémio português”, mas com a consciência de que “se quiser mudar alguma coisa terá que trabalhar mais”. Por agora, “queremos é que leiam as letras”. Cada um tirará o seu significado; e, se, Along the Line, o fim, na letra, chega ao Domingo (on Sundays there’s nothing much to do), para Corsage, hoje é segunda-feira.

Que Farei Com Estes Gumes?:
Golpe por Miguel João Ferreira às 15:26
Hipertensões | Os Golpes Que Eu Amo
De Henrique Amoroso a 22 de Dezembro de 2009 às 11:33
Artigo fantástico. Parabéns. Finalmente alguém nos conheceu. Um grande abraço e gratidão do fundo.
Henrique Amoroso
De Miguel João Ferreira a 23 de Dezembro de 2009 às 15:43
Obrigado Henrique. Ainda bem que o artigo pode dizer alguma coisa de significativo. Espero sinceramente que Corsage vá longe. Tem música para isso. Bons voos, presentes e futuros,

M.
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